Somos os primeiros da 2ª série de 20!

Fico deveras surpreendido com a surpresa que tem gerado o anúncio de que Portugal é o vigésimo primeiro melhor país do mundo para se viver, o que nos eleva instantaneamente ao título de melhores da segunda série de vinte. Não parecendo à primeira vista grande coisa, constatamos à segunda que até pode ser. É que, sinceramente, se fosse na Eurovisão ou no Campeonato do Mundo de Futebol pronto, tudo bem, já estamos habituados e não haveria assim grandes razões  para surpresas - mas aqui estávamos a contar com algo bem melhor, pelo menos, vá, algures entre uma das primeiras seis séries de três, ou entre umas das primeiras duas séries de nove!

Gerindo a tristeza, além da surpresa, quisemos saber mais. Mas só um bocadinho mais, que o saber, ao contrário do que se pensa, ocupa lugar.

Bolsas de (des)incentivo à criação artística



Encerraram recentemente as candidaturas às “Bolsas de incentivo à criação artística”, criadas pelo Governo Regional dos Açores, de acordo com o Despacho n.º 1134/2009 de 29 de Outubro de 2009. A égide foi a de contribuir para o desenvolvimento de projectos individuais de criação e de pesquisa de linguagens nas áreas artísticas, criando condições materiais para que artistas e profissionais residentes nos Açores desenvolvam e produzam obras inéditas e de qualidade, ampliando a produção e a difusão das Arte. Abrangendo sete áreas que vão a desde dramaturgia à música, solicitam a apresentação de projectos e respectiva avaliação por júri a designar e atribuição de duas bolsas (no valor individual de €10000) em cada categoria. A intenção de exploração de (novas) linguagens, transporta a iniciativa, segundo parece, para um contexto de inovação e vanguarda – aquilo a que genericamente se chamará de arte contemporânea.

O contexto periférico das Ilhas, a par de outras circunstâncias altamente limitantes como o escasso universo de infra-estruturas e recursos (sobretudo na área académica) ou o centenário défice cultural nacional – agudizado nos Açores -, tornam a carreira artística profissional praticamente impossível. Desta forma, quase sem excepção, todos os cidadãos açorianos que a tal ambicionam se vêem forçados a abandonar as Ilhas. A que criadores, portanto, se destinam estas bolsas e qual a sua efectiva contribuição para os objectivos a que se propõem? A meu ver, nenhuma, porque profundamente erradas em designação, essência e aplicação. Passo a explicar, centrando-me quando necessário, na minha área de trabalho – a música.